segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"O Intendente Sansho"(1954) - Kenji Mizoguchi




"O Intendente Sansho" abre uma gama de discussões em muitos âmbitos.Filosófico,espiritual,antropológico,o filme de Mizoguchi é como o resto de sua filmografia,te conduz numa teia de visões em busca de uma redenção.Uma mágica obtida pelo enlevo diante de um realismo fantástico,palco de medos e anseios de personagens identificáveis.
O filme abre com a mulher Tamaki,seu casal de filhos e uma criada,em uma jornada para encontrar o ex-governador pai das crianças,após 6 anos deste ser exilado por contrariar os desmandos dos tiranos.Flashbacks  fluidos trazem à tona as lembranças de Tamaki e dos ensinamentos do marido para seu filho mais velho Zushio: "Sem piedade o homem é uma besta.Mesmo se você for severo consigo mesmo,seja piedoso com os outros." No entanto em meio ao trajeto eles são enganados por uma falsa sacerdotisa,as crianças são raptadas e vendidas como escravas para o cruel Intendente Sansho,e sua mãe é vendida para um bordel enquanto a criada é morta afogada.Anos se passam e enquanto Zushio perde toda sua alma se tornando o braço direito do Intendente nos castigos infligidos aos que corajosamente tentam fugir,sua irmã Anju ainda tem a esperança de encontrar a mãe.

Assim como em "Contos da Lua Vaga",Mizoguchi abraça o tom de fábula do conto do popular(no Japão) escritor Mori Ogai mesmo sem bruxarias e espíritos.A verdade que se consegue extrair do filme no entanto é muito mais real e atual.Bebendo em fontes americanas como John Ford,a busca pela vingança e redenção contra a tentação e o domínio do mal casam com a paisagem,ressaltando a natureza e tornando táctil as brilhantes águas dos lagos e a poeira da aldeia de Sansho.Não à toa o diretor de fotografia é Kazuo Miyagawa de "Rashmon",uma prévia da paisagem de Apichatpong.A violência é seca,quando as crianças são separadas da mãe,por exemplo,o trabalho de câmera magistral  passa um pânico cortante ao som de flauta  da hipnótica trilha sonora.
Mizoguchi dizia que só a partir de seus 40 anos é que ele começou a se preocupar com os verdadeiros valores humanos em seus filmes,principalmente com "Crisântemos Tardios"(1939)."O Intendente Sansho" é seu ápice nesse sentido.O personagem Sansho por si só representa toda a corrupção de alguém que seria responsável pela justiça,mas que só busca proveito próprio na arrecadação de impostos e na escravidão.Quantos Sanshos não existem no Brasil por exemplo?A reviravolta absolutamente dilacerante que o filme dá no final mostra o quanto é válido seguir certos mandamentos virtuosos,e é praticamente impossível não se entregar ao choro.

Trailer:


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